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Dura Praxis Sed Praxis

Frequentei a Universidade de Coimbra com imenso orgulho. Adorei os anos que lá passei e sei que foram bem vividos. Quando fui para lá em 1996 ia verdadeiramente acagaçada com a praxe. Bolas, ia entrar no sítio onde a praxe era "a praxe". Preparei-me para tudo o que poderia acontecer e enfrentei o primeiro dia com coragem para aturar os Doutores. Não poderia estar mais enganada com o que aconteceu. Em primeiro lugar tive uma bela aula fantasma com o "assistente" da professora. Todos os alunos do curso estavam lá, a dizerem que aquilo era o cadeirão do curso. Ninguém conseguia fazer aquilo à primeira! Só no fim é que vi o que era aquilo.Depois, agarraram na caloirada toda e fomos para o Pinto (tasca). Não houve pinturas de cara, cânticos ou outras coisas. Só conversa e explicações de como as coisas funcionavam. Foi um impacto que durou todo o curso. Senti-me verdadeiramente recebida e acabei por replicar o mesmo exemplo. Fiz praticamente tudo: fui apanhada "fora de horas" pela trupe de arqueologia; jantei sem talheres no 1º jantar de curso (acho que foi a coisa mais manhosa que fiz); desfilei na latada com a minha madrinha;  fui baptizada no Mondego com um penico e trinquei muito nabo e muita cenoura; tracei a capa na minha primeira serenata monumental; tive afilhada no primeiro ano; o meu grelo foi atado pelo Dux; praxei as caloiras lá de casa; participei numa trupe; roubei o nabo no mercado Pedro V; queimei o grelo; fiz carradas de flores de papel para o carro (ficamos em 3º e ganhamos 75 contos); desfilei de cartola; fui chefe de trupe e cheguei a veterana (fiquei 5 anos em vez de 4 para fazer cadeiras de opção e acabar o seminário, o trabalho final!)
Quando ouvia as histórias das praxes de outras universidade e politécnicos e dizia que em Coimbra não era nada assim. As pessoas ficavam com cara de incrédulas. Sim, não andei a rebolar no chão nem mandei ninguém fazer isso. Não andei a limpar e a lavar loiça de Doutores. Nunca me senti diminuída ou coagida a fazer uma coisa que não quisesse. Haviam muitos colegas do meu curso que eram anti-praxe e participavam em jantares de curso e nunca foram colocadas à margem. Não trajavam mas acompanhavam tudo o que se fazia. Talvez a única coisa mais puxadita que fiz foi organizar uma noitada com as caloiras de casa. Percorreram as cantinas, o bar da associação e acabaram a noite no DD em pijama. Ah, e fizeram uma declaração de amor a uns tropas que tiveram azar de passar por nós. Essas caloiras, são das minhas melhores amigas.
Sei que na maioria das vezes as coisas não são assim e sinceramente tenho pena que assim não seja. Senti-me acolhida e respeitada pelos meus colegas mais velhos.
Apesar de ter estado dentro do espírito académico não sou uma defensora acérrima da praxe. Tudo o que humilhe, tudo o que magoe, tudo o que faça mal deve ser erradicado. Se para tal for necessário acabar com a praxe, por mim, tudo bem. 

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